O recente ataque de Israel a uma instalação de enriquecimento de urânio no Irã pode acionar uma perigosa escalada global do conflito no Oriente Médio. A avaliação é da professora doutora Ana Carolina Marson, docente de Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
“Israel foi muito assertivo quando resolveu fazer um ataque a uma instalação de enriquecimento de urânio. O que nós podemos esperar realmente é uma escalada do conflito”, avalia a professora. Ela acredita que uma guerra mais ampla, envolvendo potências externas, não pode ser descartada. “Existe o risco de outros países não localizados naquela região se envolverem, como Estados Unidos e Rússia”, alerta.
“Se o Irã atacar instalações militares de Israel e, de alguma forma, isso respingar para instalações militares dos Estados Unidos, os EUA teriam que entrar nesse conflito”. “Agora, o que está em jogo são armas nucleares”, destaca. Para Marson, “agora que o Irã foi envolvido, a Rússia vai sim se envolver mais na questão”, afirma. A Rússia é uma aliada histórica do Irã, mas até então participou menos da questão dos ataques à Palestina do que os EUA, aliados de Israel.
Apesar das ameaças feitas pelo Irã, Marson observa que o país tem adotado uma postura ambígua, buscando também recorrer a mecanismos diplomáticos. “Por um lado, o país escalou as tensões, falando que Estados Unidos e Israel iriam pagar caro pelo que fizeram. Por outro, levou a questão para o Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas]”, pondera.
A professora fala, no entanto, sobre o caráter sensível da atual conjuntura. “Como esse conflito pode envolver armas nucleares, os países tomam um pouco mais de cuidado. A escalada de tensões não vai acontecer de um dia para o outro”, ressalta.
Netanyahu alastra guerra
Segundo Marson, embora o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu diga defender os interesses de segurança do país, seus movimentos sugerem uma estratégia de alastramento da guerra. “O objetivo do Netanyahu em Israel, nesse momento, [parece ser] garantir a sua segurança, evitar que um país como o Irã, que eles consideram um país perigoso e que tem armas, consiga aumentar a tensão na região e a insegurança”, analisa.
Ela destaca que o Irã, considerado por parte da comunidade internacional como um “Estado pária”, já vinha sendo criticado por seu programa nuclear. “Tanto que nós vemos que os ataques, de acordo com o que o Netanyahu afirmou, aconteceram majoritariamente em usinas nucleares, em instalações militares”, indica.
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